MUDANÇAS DE HÁBITOS …………………………………………………………………………

Outro dia decidi que iria mudar minha vida. Resolvi que seria uma pessoa normal. Que dormiria de noite e trabalharia durante o dia como a maioria dos brasileiros, com exceção, é claro, daqueles que de fato são obrigados a trabalhar no período noturno. Afinal de contas, já que tenho o luxo de ter uma flexibilidade em meus horários de trabalho, não haveria motivo para dormir às 06hs da manhã e acordar às 14hs. É fato e vocês que me acompanham há algum tempo sabem que prefiro trabalhar durante a madrugada, quando os telefones nos dão um sossego, quando há mais silêncio, menos pessoas circulando, menos barulho, além de que sou um apreciador da noite. A escuridão da noite sempre me foi uma fonte de inspiração.

No entanto, mesmo não acreditando nesse negócio que os médicos tanto falam de que nosso organismo sente essa diferença de horários, que isso faz mal, eu nunca acreditei. Como meu estômago poderia saber se é noite ou dia? Qual a diferença de comer uma feijoada de manhã cedo e uma fatia de pão integral a noite? Afinal de contas, precisava de energias durante a noite que era meu horário de trabalho e não durante o dia que estava dormindo. Contudo, com novos projetos profissionais e finalmente deixando a teimosia de lado, decidi que iria mudar radicalmente meus hábitos com relação aos horários de dormir, me alimentar e acordar. E assim estou fielmente fazendo.

O pequeno detalhe é que essa mudança de hábito a que me propus em um primeiro momento não me pareceu nenhuma tarefa impossível. Tenho ciência que mudanças de hábitos não são fáceis, mas, me iludi achando que ao menos haveria uma escala para mais e para menos nessa dificuldade. Talvez por ingenuidade ou não, descobri que quando se fala em mudanças de hábitos, todas elas têm o mesmo grau de dificuldade, Todas são árduas, difíceis e é preciso ser persistente.

Logo que resolvi executar o meu plano de mudança de horários pensei: – Bom, com certeza será muito mais fácil ajustar meus horários do que fazer um regime. Bastava permanecer 24 horas acordado, algo nada incomum na minha antiga rotina e no dia seguinte deitar para dormir às 20hs. Mesmo que dormisse 14hs ininterruptamente acordaria às 10hs da manhã. Entretanto, coloquei o despertador para as 8hs. Mas ele não tocou, na verdade ele nem precisou tocar, desliguei-o muito antes. Havia acordado às 5:15hs da manhã e não consegui mais pegar no sono. Bom, fiquei enrolando na cama aproximadamente por mais 1 hora, cansei de ficar rolando de um lado para outro, levantei, tomei banho, me vesti, etc. e etc. aquelas coisas que pessoas normais fazem de manhã e fui trabalhar. Cheguei no escritório às 8hs. Pela primeira vez, estava na agência antes de todos. Estava orgulhoso de mim mesmo. Rapidamente me veio aquela sensação de vitória. Consegui!!! Olha que fácil!!!. Não acordei no horário pretendido, aliás, muito mais cedo, mas em virtude disso com certeza iria sentir sono de noite. Acabei achando até bom.

Mas como se diz naquela máxima de que tudo que é bom, dura pouco, não foi muito diferente comigo. Iniciou-se um processo de revolução no meu sistema biológico. Foi nesse momento que acreditei no que os médicos sempre diziam de que nosso corpo “sabe” que horas são. Eu só não notava porque fazia tanto tempo, ou melhor, tantos anos que levava essa vida que provavelmente meu organismo já funcionava no fuso horário do Japão.

Como havia dito, cheguei no escritório às 8hs, não é mesmo? Pois é. Às 10:30hs da manhã já estava sentindo uma moleza. Um quase sono. Mas, também, não era sono. Era algo estranho. Uma sensação de cansaço. Como se eu tivesse trabalhado 12 horas direto. Uma impressão de quase esgotamento. Eu tinha dormido durante a noite, havia tido uma excelente noite de sono e às 10:30 da manhã tinha a impressão de que já eram umas 3 horas da manhã. Estava sofrendo literalmente um “Jet Lag” termo utilizado quando viajamos para o exterior com fusos horários muito diferentes do nosso e que nos causam essa descompensação gerando uma fadiga explicada como “uma condição fisiológica que é uma conseqüência de alterações no ritmo cardíaco”. Enfim, meu relógio biológico estava do avesso.

Confesso que passei o dia mal. Me sentia estranho, e, para melhorar, tinha reservado o dia todo para as primeiras gravações dos vídeos para o meu Vlog. Olhei para as câmeras, para a iluminação, a arrumação do cenário, para o diretor, microfones por todos os lados, toda aquela produção e o principal que era o apresentador estava ali imóvel, apático. Bom, mas nada que não pudesse ser superado. Afinal, estou tão habituado a palestrar e dar aulas para tantas pessoas onde é preciso estar bem, onde existe um tempo para ser cumprido, e que a margem de erro em cima de um palco ministrando uma palestra para 1000 pessoas tem que ser a menor possível ou preferencialmente nula. Não dá para pedir para a platéia te esperar 10 minutinhos porque te deu um branco. Quando a sua voz começa a sair por aquelas caixas de som e o microfone está com você, a partir da primeira palavra que se pronuncia o cronômetro começa a rodar e o próximo palestrante já está no camarim se preparando para entrar assim que eu finalizar a minha apresentação. Desse modo, qual o impasse em realizar uma gravação onde vou falar textos de no máximo 10 minutos, onde posso errar e recomeçar do ponto em que parei, onde não há cronômetro, nem platéia? Qual a dificuldade de olhar para algumas câmeras e cumprir a seguinte orientação do meu diretor: – Mathias, seja você mesmo, preciso de espontaneidade, não fique preso ao texto, ao roteiro, aqui você tem liberdade para errar, fazer de novo, mudar o texto no meio do caminho, só preciso que seja algo espontâneo, fale do jeito que lhe vier na cabeça. Se houver algum problema resolvemos na edição. Querem uma facilidade maior que essa? Impossível.

Caros leitores, a liberdade, a facilidade de executar o projeto era tanta que o sonho de liberdade se transformou em um jogo mortal. Câmeras ligadas, áudio preparado, iluminação no lugar e escuto: – Gravando!!! Comecei a falar e sem querer me enrolei. Tudo bem. Acontece. Atores e apresentadores profissionais repetem quantas vezes até acertarem? Sendo assim, porque eu teria que acertar de primeira? Tranqüilo. 2º Take, 3º Take, 10º Take, 20º Take, passadas 6 horas não tinha conseguido gravar o primeiro vídeo do dia de 5 minutos. Levanta, relaxa, joga o texto fora, bebe uma água, escuta o diretor, repete, erra, repete, erra novamente, repete e pronto. Travei. Meu diretor virou para mim e disse: – Esquece. Não se preocupa. Hoje não deu. Não saiu. Amanhã é outro dia. Tente relaxar. Você está muito tenso.

Puxa, vocês não sabem como fiquei frustrado. Como seria possível não conseguir gravar 5 minutos de vídeo tendo ainda a possibilidade de editar? Aquilo não entrava na minha cabeça. Não conseguia digerir tamanha incompetência. Enfim, já que nada tinha dado certo, resolvi tomar o meu amigo Rivotril e fui embora da agência às 18:30hs. Cheguei em casa, comi alguma coisa que nem lembro mais e tentei não pensar sobe o assunto. Às 20:30hs já estava na cama deitado. Dormi. Obviamente, e, ainda bem, acordei no dia seguinte e continuei segui a risca o plano de mudar meus horários. No entanto, realmente era outro dia, já não sentia mais aquela fadiga toda. Aquela desorientação tão intensa, e, por fim, ao chegar na agência sentei na frente das câmeras e gravei. Apenas 1 Take. Uma tomada. E o texto fluiu da maneira mais natural e normal do mundo.

O que quero dizer, é que independentemente desse meu caso isolado de mudança de horários, percebi o quanto é difícil mudar hábitos de uma maneira geral. Deixar para trás algo que já faz parte de você, da sua rotina, do seu cotidiano, da sua vida, é sempre muito difícil. Tenho consciência que não estou falando nenhuma novidade. Sei o quanto as pessoas sofrem para emagrecer, largar um vício como a bebida, o cigarro, ou mesmo ao criar, inventar ou necessitar se adaptar a uma nova realidade e por conseqüência a novos hábitos. Apenas o que deixo de mensagem para todos essa semana é que ao avaliar bem o assunto de mudanças de hábitos, percebi que infelizmente ou felizmente, para se ter êxito em qualquer coisa que se pretende na vida seja no setor que for, é preciso de muita dedicação, paciência e principalmente persistência.

Um ótimo domingo e um excelente início de semana a todos vocês!!!

Um ótimo domingo e um excelente início de semana a todos vocês!!!

mathias@mn11.com.br
HTTP://www.twitter.com/grupomn11
http://www.mn11.com.br
http://www.mathiasnaganuma.blogspot.com

http://www.twitter.com/mathiasnaganuma

Twitter Pessoal: @MathiasNaganuma

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima